blog em português, dedicado a assuntos nórdicos
blog om Norden på portugisisk

segunda-feira, julho 26, 2004

Os Metralhas do Norte
[Olsenbanden]


Falar do cinema norueguês é falar também do Bando Olsen (Olsenbanden),  talvez o bando criminoso mais incompetente da história do cinema.

O Bando Olsen surgiu na Dinamarca em 1968, e é um grupo de larápios com vagas semelhanças com os Irmãos Metralha. Os filmes começavam tradicionalmente com o seu chefe, Egon Olsen, a sair da prisão e a contar aos seus associados que o esperavam como tinha engrenado um magnífico plano infalível, que invariavelmente falhava. Eram especialmente populares na falecida RDA, talvez devido às suas tendências anti-autoritárias (do bando, não da RDA), o que explica que talvez a página mais completa sobre eles que encontrei se encontre em alemão. A história arrastou-se por 14 filmes e outros tantos brilhantes planos falhados, até que os larápios se reformaram, com mais um brilhante plano falhado (mas, como o filme pascal do Mel Gibson demonstrou, mesmo um filme onde toda a gente conhece o final da história pode ter bastante sucesso).

O Bando foi primeiro exibido na Noruega na sua versão original, sem grande sucesso, até que alguem teve a brilhante ideia de filmar os filmes sem paragens glotais (que são aqueles sons giros em dinamarquês que usam músculos da garganta que a maior parte das pessoas não sabem que possuem). Assim, usando os cenários originais nos estúdios de Copenhaga e actores noruegueses, estava criada a receita para o sucesso, e o bando norueguês tiveram direito a 13 tentativas de fazer o golpe da sua vida, com o mesmo sucesso dos primos do outro lado do Skagerrak. Nenhum.

Os filmes eram no entanto ligeiramente adaptados às condições locais. Assim, quando o bando dinamarquês distrai um guarda pondo-lhe uma revista coisográfica ao alcance, os noruegueses usam um chocolate.

Existe também uma versão sueca, a Jönssonliga, e uma versão finlandesa cujo nome desconheço mas que outros bloguistas tuolla pohjantähden alla talvez nos possam esclarecer.

No entanto, claro que uma franchasing com tanto sucesso não podia acabar. Assim sendo, e sabendo que o cinema para a infância e juventude está um tudo nada mais desenvolvido nas terras gélidas que nos países europeus cujos nomes começam por P e que não são a Polónia, os três irmãos nórdicos começaram a filmar as fases iniciais da carreira deste simpáticos embora incompetente criminosos - os dois Olsenbanden jr e a pequena Jönssonliga. E, aparentemente, já nesse altura eles não tinham muito sucesso...

Claro, a pergunta que se segue é simplesmente - tinham piada? Atendendo a que, dos treze filmes, não vi doze e meio, parece-me que alguma. 

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terça-feira, julho 13, 2004

Os perigos da vida de pescador
[Fiskerlivets farer]

Tinha decidido há uns tempos atrás, falar de alguns filmes noruegueses, uma vez que a embaixada em Portugal tem uma óptima página sobre a história do cinema norueguês.

O post anterior sugere-me que fale do primeiro filme de ficção alguma vez feito na Noruega, Fiskerlivets farer (Os perigos da vida de pescador). O filme, de 4 breves minutos, foi infelizmente perdido, como tantos outros dos primórdios do cinema mundial (há uma reconstrução feita nos anos 50), e, diz-se contava a história de uma mãe que via o marido e o filho partir para o mar, naufragar, e via impotente o filho morrer afogado. O filme foi naturalmente filmado no lago que existe no parque do Frogner em Oslo.

Existem precendentes para isso na história do cinema nórdico; assim sendo, em 1897, um dos primeiros filmes dinamarques, um breve minuto intitulado Kørsel med grønlandske hunde, (Viagem com cães groenlandeses) foi naturalmente filmado num parque de Copenhaga (pelo que deve classificado como um dos primeiros filmes de ficção da história, uma vez que os empregados, embora avisados de antemão, estavam mesmo a sair das fábricas Lumière).
Por sua vez, um dos primeiros filmes finlandeses (estou a citar de memória, pelo que peço desculpa de não me recordar do nome do filme) intitulava-se algo como "As belas paisagens da nossa pátria". Mas, para poupar bobine, que era muito cara, boa parte das paisagens foram aproveitadas de outro filme. Sueco.

Um livro recomendado para quem quiser saber mais sobre os cinemas nórdicos é Nordic national cinemas, da Routledge.

E perguntam-me o que sei sobre isto.

Em primeiro lugar, a comunidade portuguesa na Noruega é pequena (cerca de 700 pessoas, incluindo os filhos de casamentos mistos); há uma camada mais antiga, dos anos 70, quase exclusivamente de homens que preferiram andar pelas terras gélidas desarmados do que andar nas terras bastantes tórridas dos trópicos armados. Boa parte dessa camada é na realidade cabo-verdiana, muitos dos quais vieram como tripulantes da marinha mercante norueguesa (bastante grande em relação à dimensão do país). Um dos portugueses mais antigos da Noruega diz-me inclusive que por volta de 1970, havia cerca de 150 cidadãos portugueses na Noruega, dos quais uns 120 eram cabo-verdianos.

Por motivos compreensíveis (a distância e a pouca atracção do clima), a Noruega nunca foi um grande destino de emigração lusa, e muitos dos portugueses (e portuguesas) - especialmente a camada pós-25-de-Abril - que se podem encontrar na Noruega estão lá por razões familiares. Alías, por vezes eu tinha a impressão que eu era o único português no país que não era casado localmente.

Dito isto, provavelmente sempre houve portugueses nas terras gélidas desde tempos imemoriais (e, mais raramente, portuguesas - talvez o português mais antigo na Noruega seja uma simpática senhora de Lamego, na Noruega desde 1950). Por exemplo, sabiam que uma das filhas de D. Sancho I foi rainha da Dinamarca?

Sendo a Noruega um país de tradição pesqueira (o ser humano tem que comer, e tentem plantar trigo ou levar as vacas a pastar com os campos debaixo de dois metros de neve), e sendo durante séculos a pesca uma actividade perigosa e por vezes fatal, sempre houve um excesso de mulheres na costa ocidental do país, que era compensada pelas paragens (por vezes involuntárias, tipo quando o navio naufragava) de tripulações do sul da Europa. Eventualmente alguns deixavam-se ficar, mas creio (não tenho dados concretos) que uma grande parte regressava às suas terras.

Quanto ao património genético que os portugueses por lá deixaram, bom, há uma pequena localidade islandesa (não é que haja grandes localidades na Islândia, mas adiante), onde frequentemente paravam os navios pesqueiros não só portugueses como espanhois e franceses. Essa localidade é conhecida localmente como "Congo", devido à grande quantidade de crianças com caracteristicas mais meridionais e pouco louras que por lá nasciam. Por que será?

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sábado, julho 10, 2004

Como disse há uns posts atrás, na Noruega não é possível haver eleições antecipadas. A legislatura dura sempre quatro anos, excepto quando os alemães invadem o país.

Dito isto, não estou a ver uma mediocridade, ou para ser mais exacto, uma nulidade como Pedro Santana Lopes tornar-se primeiro ministro da Noruega. O pensamento é absoluta e totalmente ridículo.

O mais estranho é que agora, até quem votou no PSD tem uma boa desculpa: podem sempre alegar que não votaram nele.





quinta-feira, julho 08, 2004

A Noruega da história
Historiens Norge

Quando regressei das terras gélidas há dois meses, comprei um livrito no aeroporto intitulado "Norges historie", do humorista Yngve Skomsvoll (o que me decidiu a comprar o livro foi uma nota na capa dizendo "incluindo 1030, 1814, 1945 e muitos outros anos"). Peço perdão pela violação do copyright, mas aqui está a tradução de um dos apêndices.

A história da Noruega de trás para a frente:

A história da Noruega de trás para a frente é a história de um país que era muito rico, até o petróleo desaparecer nos anos 60, e o país ser arrasado sob a liderança de Einar Gerhardsen, a família real ter deixado o país, e os alemães terem vindo pacificamente para a Noruega, onde tomaram armas e governaram o país como uma ditadura até partiram sob combates um tanto ou quanto intensos cinco anos mais tarde. Nos anos entre as guerras quase cem mil pessoas obtiveram subitamente emprego, e tudo foi melhorando progressivamente até à guerra mundial seguinte. Em 1905 o Parlamento decidiu entrar numa união com a Suécia, até cem anos mais tarde abolir a sua própria constituição e a Dinamarca roubar a Noruega aos suecos. Durante esse período, centenas de milhares de noruegueses vieram da América sem que ninguém entendesse donde vinham, Quatrocentos anos mais tarde, o rei da Dinamarca declarou que não mais queria governar a Noruega, e a Noruega viveu o seu primeiro tempo de grandeza desde o fim do petróleo c. 1960. Pouco depois a Noruega caiu em guerra civil, e o país foi dividido em inúmeros pequenos reinos. Os viquingues começaram a velejar para terras longínquas, onde ofereciam ouro e mercadorias aos monges e comerciantes. A América encontrou Leiv Eiriksson, e o tempo dos viquingues terminou quando eles foram levar uma data de coisas giras ao mosteiro de Lindisfarne em Inglaterra em 793. Pouco depois os noruegueses esqueceram como preparar o ferro, e tiveram que se safar só com bronze. Depois perderam também o conhecimento da preparação do bronze, e subitamente as únicas ferramentas que dispunham era de pedra, osso, corno e madeira. As únicas casas que tinham eram cavernas. Passavam os dias exclusivamente a caçar, sentados a volta de fogueiras, a limpar gravuras das pedras [as barragens polémicas não são um exclusivo português – N.T.], e a ter relações sexuais na caverna ou ao ar livre. Os noruegueses nunca tinham sido tão felizes, por isso continuaram assim durante cerca de 8000 anos, até todos os noruegueses terem morrido, excepto uma família, que parece ter achado que começava a ficar muito frio e por isso deixou a Noruega para buscar a sua sorte na Alemanha. Pouco depois a última rena também abandonou o país, que ficou coberto de uma camada de gelo de várias centenas de metros que achatou a terra debaixo de si. E assim ficou a Noruega congelada durante muitos, muitos milénios.

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