Reis e rainhas nórdicos II
[Nordiske konger og dronninger II]
Segundo episódio da série dedicada às cabeças coroadas das terras gélidas.
No meio da confusão gerada pelas guerras napoleónicas, a Dinamarca aliou-se à França alegadamente por não ter apreciado o serviço da marinha inglesa violando-lhe a neutralidade, destruindo-lhe a frota e bombardeando Copenhaga. Foi uma má escolha, e isso levou à perda da Noruega. O Príncipe herdeiro, Cristiano Frederico (devem-se lembrar que os reis da Dinamarca chamam-se alternadamente Cristiano e Frederico - e se não sabem que actualmente é uma rainha, estais mesmo mal informados), o príncipe herdeiro, dizia eu, autoproclama-se rei da Noruega. Foi aceite pelo Parlamento (ou seja, meia dúzia de burgueses que se autoproclamaram representantes da nação), mas reinou durante escassos meses, pois o seu reinado foi perturbado por outra personagem histórica.
Carlos III João (XIV para os suecos), filho de um modesto advogado de Pau (no sul de França), seguiu a carreira militar, e aproveitando as oportunidades da época napoleónica, chegou a marechal do dito Napoleão. Aos 47 anos, foi adoptado pelo rei da Suécia, e tornando-se num caso de imigrante de primeira geração com sucesso, chega a chefe de estado sem sequer saber falar a língua do dito estado. Convence convincentemente os noruegueses que é melhor deixarem-lhe acumular o cargo com o de rei da Noruega, pois sempre era melhor deixá-lo ser rei do que levar no corpo e ainda assim tê-lo como rei.
Haakon VII customava-se chamar Cristiano antes de ser eleito plebescitariamente rei da Noruega em 1905, porque os noruegueses estavam fartos de ter um rei estrangeiro a tempo parcial. Por isso trocaram-no por outro rei estrangeiro, mas a tempo inteiro. Por isso, Cristiano trocou de nome, aprendeu a esquiar, e tornou-se símbolo da resistência quando os malvados porcos nazis invadiram o país em 1940.
O seu filho Olavo V, que se chamava Alexandre quando nasceu, veio para estas terras gélidas com dois anos, e sucedeu ao pai em 1957. Viria a tornar-se imensamente popular porque uma vez andou de eléctrico. Alegadamente, um postal muito popular há uns anos mostrava-o a fazer festas a um gatinho, sob o olhar do chefe de estado estrangeiro que por acaso visitava o país. Um tal Ramalho Eanes.
Quanto ao seu neto, Harald V, reside actualmente no Palácio Real (embora neste momento esteja internado no Hospital Nacional do outro lado da rua, pois vai ser operado na segunda: desejos sinceros de rápida recuparação deste republicano inveterado).
Algumas palavras sobre monarcas das outras terras gélidas, que não reinaram nestas:
Cristina da Suécia, a única rainha da história do país. Filha do grande campeão do protestantismo, Gustavo Vasa (cargo que acumulava com o de ministro da defesa), caído em batalha contra os malvados protestantes. Provando que quem sai aos seus não degenera é uma grande treta, converteu-se ao catolicismo e renunciou ao trono. Embora o filme com a Greta Garbo indique que o motivo terá sido uma paixão pelo embaixador espanhol, isso é pouco provável, levando em conta os rumores acerca das preferencias sexuais da majestade. Daí ser bastante famosa, como exemplo de pergunta traiçoeira, "com quem se casou a rainha Cristina da Suécia". Resposta: com ninguém.
Carlos XII já foi referido noutro artigo, como exemplo de rei (cargo que acumulava com o de ministro da defesa) traiçoramente tombado no campo de batalha.
Urho Kekkonen, embora não fosse rei, parecia-o, tendo exercido o cargo de Presidente da República Finlandesa durante 25 anos, com recurso a intriga da mais alta qualidade, conseguindo inclusivé que a União Soviética o apoiasse - por vezes de maneira pouca discreta- apesar de ser o protótipo de político burguês que seria dos primeiros contra a parede quando a revolução chegasse. A Finlândia era à época conhecida informalmente como Kekkoslovakia, o que leva mais a supor que Kekonnen seria mais o sobrevivente que Estaline customava deixar para mostrar que, como dizia a camarada Odete, não era tão mau tipo quanto isso.
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