Apesar do recente discurso real que citei há dias não conter nada de importante, algumas mentes mais malvadas não resistiram a chamar a atenção para um pormenor: o senhor Haraldo inclui duas citações de
Knut Hamsun, o que me permite introduzir um momento cultural.
Hamsun - mais um norueguês mundialmente famoso - enchou de orgulho o país após ganhar o Prémio Nobel da Literatura em 1920 - para vinte anos mais tarde descer ao nível de escritor maldito da nação, após apoiar um certo político alemão de bigode e o seu
quisling local, Vidkun Quisling (aliás, Quisling era um
quisling ao ponto de o seu nome se tornar sinónimo de "político local sem nenhum apoio popular posto num lugar sem nenhum poder real pelas forças ocupantes" - googlar por Ahmed Chalabi pode explicar o quero dizer). Hamsun chegou inclusive a publicar um obituário elogiando o dito político alemão após o seu suicídio (o do político, não de Hamsun) - o que leva a pensar que os que internaram no manicómio em vez de na prisão a seguir à libertação deviam ter uma certa razão.
Quanto à minha opinião acerca do escritor, li apenas dois livros - um no século passado, em tradução portuguesa -
Sult, "A Fome", e no original (tão original que ainda mantinha a ortografia do final do século XIX, apesar de ter sido impresso em 2000),
Viktoria (título português, "Viktoria").
Sult, que um jornal americano citou uma vez como sendo a inspiração para o delicioso filme
Babettes gæstebud, "A Festa de Babette", conta a história de um escritor esfomeado em Oslo - uma Oslo que na altura eu não conhecia, pelo que talvez seja uma boa ideia rele-lo. Quanto a
Viktoria, é a história trágica e ridiculamente romantica de dois apaixonados que apenas descobrem a sua paixão mútua quando um deles morre. Triste.
A vida de Hamsun foi filmatizada, num
filme mediocre salvo apenas pelas magníficas interpretações do grande actor sueco
Max von Sydow e da excelente, embora pouco famosa fora da Escandinávia, actriz dinamarquesa
Ghita Norby.
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